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Resenha: The Maccabees - 'Marks to Prove It'



Lembro-me bem da época de lançamento de 'Reflektor' do Arcade Fire. Encasquetei: queria escrever algo sobre o álbum e sobre os videoclipes lançados durante os próximos meses. Falhei miseravelmente. O motivo? Eu estava com sérias dificuldades para descrever o que eu sentia durante a escuta do álbum. O fenômeno se repetiu na concepção deste texto que você está lendo. Lançado no último 31 de julho, 'Marks To Prove It', do The Maccabees, com suas oscilações e riqueza instrumental, é um álbum difícil de descrever. É o tipo de escuta que fiz admirada. Eu estava estarrecida e sem palavras.

Alguns apontamentos sobre 'Marks To Prove It' podem ser feitos para quem já está acostumado ao trabalho da banda: o quarto álbum de estúdio do Maccabees é, à primeira escuta, quente. Após a gravação do anterior 'Given to the Wind', os integrantes da banda sentiram uma grande necessidade de repensar o processo criativo. Em entrevista ao Northern Transmissions, o produtor e guitarrista da banda, Hugo White, declarou que ele e seus colegas se viram em sérios problemas para escrever os versos das canções. Como solução, decidiram não utilizar computadores para escrever e testar os versos, de forma que as composições foram escritas à mão. Talvez por isto o álbum soe com um frescor semelhante ao de 'Colout It In' (2007).

"Marks to Prove It", canção que abre e dá título ao trabalho, nos lança as guitarras dos irmãos White em chamas furiosas, introduzindo a voz de Orlando Weeks com um "grito" - aliás, é uma das melhores performances dos irmãos White em todo o álbum, com potencial para grandes solos ao vivo.

O vocalista, por sua vez, entoa os versos da canção com uma voz tenra, enquanto o instrumental passa por distorções e mudanças bruscas de ritmo. O som decrescente ao final da canção é brilhante. No vídeo, que inicia uma trilogia, um típico homem de negócios passeio pelo cotidiano apressado de Londres, até chafurdar nas próprias lembranças. As cenas são entremeadas a um encontro intimista do Maccabees.



 "Kamakura" contém traços do trabalho do Black Keys em 'El Camino'. Aqui, a estrela da canção é a bateria. Os instrumentos de percussão passeiam pesadamente sobre o som das cordas, em um movimento que poderia ser perigoso. Se a participação do vocalista Orlando Weeks, a princípio, soa tímida, ela ganha uma nova potência com a introdução das guitarras. Ao final, o instrumental suga os vocais por completo.

"Ribbon Road" é uma canção poderosa, com um ótimo desempenho de Orlando Weeks. Sua melancolia paira sobre o instrumental introspectivo. Ritmo que ganha uma carga súbita de energia em "Spit It Out". Uma das canções mais brilhantes em todo o álbum traz uma combinação cativante entre os instrumentos de percussão e as cordas, que agem aqui um tanto menos furiosas.

"Silence" e "Slow Sun" são as canções mais mornas de 'Marks to Prove It'. A primeira é de uma tristeza tocante, com versos que falam sobre desencontros.

"Something Like Happiness" tem uma aura mais otimista. O vídeo da canção traz a segunda parte da trilogia proposta pelo Maccabees. Agora, um homem de negócios paira sobre um espaço urbano repleto de interferências fantasiosas e elementos naturais, todos em tons claros. Provavelmente, a trilogia será encerrada com o vídeo de "Spit it Out".

 

"River Song" é uma das canções com elementos surpresa no álbum. Uma inesperada trombeta anuncia a canção de ares introspectivos e um exótico kazoo aparece de sopetão. No refrão, múltiplas vozes dão à canção melancólica um inesperado sopro de energia. 

"WW1 Portraits" retoma a fúria do início de 'Marks to Prove It'. Para acompanhar as expoentes guitarras dos irmãos White, o baixo discreto de Jarvis e a bateria feroz de Sam Doyla, Weeks lança versos em desespero. Já "Pioneering Systems" soa como uma reconfortante lullaby (alguém se lembra de "Toothpaste Kisses"?). Junto de um Weeks tenro, o backing vocals de vozes femininas traça uma harmonia doce com o piano.

"Dawn Chorus" encerra o álbum como quem se espreguiça após um dia cansativo. Apesar de ser uma bela canção e com aparições surpreendentes de trompetes, é um tanto repetitiva no trabalho. Ainda assim, vale destacar a feliz opção pela sobreposição de vozes no meio da canção.

De certo modo, estou surpresa com a ausência de buzz em torno de 'Marks to Prove It'. O álbum aponta uma nova direção no trabalho do The Maccabees, que posso descrever como "mais polida". Embora seja reflexivo, no sentido de provocar novos olhares sobre os trabalhos anteriores da banda britânica, pode soar um pouco cansativo devido ao ritmo mantido no álbum. Este aviso não se refere aos fãs de Orlando Weeks e cia.

O cuidado esmerado na produção do álbum, que também obedeceu a batuta de Laurie Lathan, revela no Maccabees uma joia a ser lapidada, embora haja nela um brilho autêntico.



Ouça: "Pioneering Systems", "Marks to Prove It", "River Song".

 Nota: 8,5/10 

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