Resenha: Meg Myers e a sua juventude errante no álbum 'Sorry'
Meg Myers lança o seu primeiro álbum de estúdio, 'Sorry', mas não precisa de desculpas para abrir alas. A cantora de 28 anos honra suas raízes de Nashville ao ver na música o refúgio para a profusão de sentimentos de uma juventude dura. O vídeo de "Desire" já possui mais de 3.600.000 visualizações no YouTube e é uma amostra do potencial da artista entre o público.
Se a moça nasceu na terra de Johnny Cash, a performance, no entanto, lembra o grunge de Seattle: Meg Myers é desengonçada e encara a plateia em desafio, retorcendo-se como Eddie Vedder fazia ainda no início da carreira.
'Sorry' é um álbum produzido entre idas e vindas de turnê. Talvez por ser o primeiro trabalho de estúdio da cantora, talvez pela grande concentração de instrumentos em algumas canções, por vezes, ele soa um tanto imaturo, o que é compreensível, dada as circunstâncias. Em entrevista a Rookie Mag, Meg declarou que começar do zero tantas vezes a ajudou a desenvolver sua criatividade:
"Acho que todas as vezes em que comecei novamente, eu estava empolgada, mas acho que se mudar constantemente para uma criança pode ser muito duro. Acho que eu estava muito aberta a isto porque eu estava acostumada, mas estou certa de que se eu não tivesse a válvula criativa, eu seria muito mais rebelde do que eu era. Ter uma saída criativa me deu uma base e fez com que eu me sentisse menos sozinha. Eu realmente precisava disto para as emoções que eu estava escondendo - não só de minha família, mas de mim mesma."
"Sorry" e "Go"(não incluída no álbum) mostram os potenciais mais cativantes da música de Meg Myers. Se a primeira prima por um refrão desesperado, a segunda invoca instrumentos pesados para a faixa com maior sex appeal do trabalho, talvez pelas pausas numericamente localizadas ou pelo voxal quase sussurrado de Myers. "Motel", que abre o álbum, tem uma pegada pop chiclete irresistível, e a vibe é repetida em "A Bolt From the Blue", que traz um perfume anos 80 para o trabalho.
Já a sombria "Desire" possui um refrão demasiado cansativo, embora a performance ao vivo da canção seja contagiante. Talvez por estar em uma fase de pouca tolerância para a adolescência contemporânea, não consegui ter qualquer afinidade com "I Really Want You To Hate Me", uma das canções mais joviais de 'Sorry'. Relevando este detalhe, o instrumental da canção é um tanto carregado para que a ele sejam somados os backing vocals que ecoam sombriamente os versos de Meg. Nós já superamos o gothic metal do Evanescence, paws.
As baladas "The Morning After" e "Parade" (lullaby) evidenciam os vocais de Myers, nos mostrando uma artista que também aflora em momentos de tranquilidade e introspecção. Já a atrevidinha "Lemon Eyes" é uma das canções que mais me cativou em todo o álbum, aproximando a obra de Myers de Jenny Lewis. Nela, encontramos uma perfeita harmonia entre as notas de Myers e os instrumentos de corda, talvez a maior em todo o álbum.
"Make A Shadow" é a faixa que aproxima o trabalho de Meg Myers ao Haim, o que é uma característica positiva para Myers. A voz da cantora está em harmonia com o instrumental, e o refrão da canção é um dos melhores e mais frescos em todo o álbum. Já "Feather" nos leva a um momento de meditação sem usar a fórmula das canções de ninar.
Para conhecer um pouquinho melhor o trabalho da moça, vale petiscar o EP 'Daughter In The Choir'. Nele encontramos o ótimo e sexy "Tennessee", no qual a cantora forma parceria com Doctor Rosen Rosen. A faixa "Go" também ficou de fora de 'Sorry', mas é um ótima amostra do potencial de Myers.
'Sorry' está disponível para download gratuito no Soundcloud e já foi posto para streaming no Spotify. Ele também está a venda pelo iTunes e na Google Play.
Ouça: "The Morning After", "Lemon Eyes", "Make a Shadow"
Foto: Cattie Laffoon.
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